As Palavras Que Nunca Te Direi
Message in a Bottle (1999), um filme de Luis Mandoki com Kevin Costner, Robin Wright Penn and Paul Newman.
Um milhão de palavras não podem trazer-te de volta. Sei-o porque te disse todas as palavras que sabia.
Todos os dias invento novas palavras, são as que nunca te direi.
Splendour in the Grass
De Splendor in the Grass (1961), um filme de Elia Kazan com Natalie Wood e Warren Beatty.
There was a time when meadow, grove, and stream,
The earth, and every common sight,
To me did seem
Apparelled in celestial light,
The glory and the freshness of a dream.
It is not now as it hath been of yore;
Turn wheresoe’er I may,
By night or day,
The things which I have seen I now can see no more.
...
What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower;
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death,
In years that bring the philosophic mind....
William Wordsworth
Metade
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar..."
Chico Buarque de Hollanda
Já são tantos meses, quase 1 ano desde o último post, 1 ano inteiro desde que algo em mim se quebrou de tal forma que não mais foi possível juntar os pedaços. Estive a olhar os posts que publiquei durante 2007, nem sei se os publiquei para alguém ou apenas para mim mesma, para me enganar a mim mesma e dizer-me feliz... a minha mãe cantava quando estava muito triste. Eu bloguei furiosamente, li e escrevi desalmadamente, falei com amigas e amigos (sempre sobre o mesmo tema), menti descaradamente a mim mesma, esforcei-me para esquecer, usei as pessoas que me rodeavam como quem usa drogas, alucinei diariamente, vivi de raiva e ódio, alimentei desejos de vingança, segurei a água que me alagava os olhos e fingi estar pior da minha alergia quando nem sequer era Primavera.
Mas depois, depois e sem saber como acordei daquela imensa bebedeira e percebi que beber para esquecer não resulta. Quando nos "morre" alguém tão amado é mesmo preciso fazer uma pausa e chorar e lamentar. Há que viver o nosso luto! Eu recusei fazê-lo quando devia... e agora, agora nem sei o que faço ou o que sou ou que raio de metade de mim desapareceu para sempre e deixou um buraco negro impossível de preencher.
Não sei porque afastei de mim todas as pessoas que me são queridas. Mas não o fiz de forma consciente, foi acontecendo aos poucos. Um dia não atendi um telefonema, outro dia não respondi a uma mensagem, outro dia deixei de ligar o Messenger, depois esqueci um aniversário, depois... imagino que a amizade não resista quando é sistematicamente ignorada.
E a metade de mim que ainda valia alguma coisa ficou cada vez mais encolhida no seu canto, incapaz de reagir, incapaz de pedir ajuda, incapaz de aceitar fosse o que fosse. Aconteceu aos poucos. Mudei de carruagem, deixei todos na da frente e fui andando para trás, até que não havia mais nenhuma e saí do comboio na estação mais deserta que encontrei.
Se puderem perdoem-me, talvez se o fizerem eu possa perdoar a mim mesma.
Reabrir o blog...
Foi-me aconselhado voltar a escrever no blog.
E bem, vou tentar... embora seja por demais doloroso. Escrever não é doloroso, dói escrever aqui. Porque este espaço está intimamente ligado às memórias mais tristes. Enchi as páginas de coisas sem importância alguma, de palavras que pretendiam esconder outras palavras.
São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio.Um dia caí de encontro a uma porta de vidro que se estilhaçou em mil palavras afiadas como facas: abandono, humilhação, fracasso, derrota, desespero, solidão, saudade... saudade, saudade!
E muitas continuam cravadas na minha pele...