Integração perversa
Que o sistema de ensino actual é pensado para a normalização e integração dos indivíduos já todos sabemos. Que em muitas situações isso é justo e, por isso mesmo desejável, também é um dado adquirido. É óbvio que alunos das mais diversas origens e com as mais diversas características devem ter as mesmas oportunidades de crescimento e educação, dentro do respeito pela diferença.
O sistema providencia leis que regem as condições específicas de ensino e avaliação destes alunos, ditos com Necessidades Educativas Especiais. Isto é correcto e perfeitamente consensual, embora quem está habituado a receber tão pouco saiba que o verdadeiro objectivo desta lei integradora é apenas poupar mais uns quantos milhares encerrando escolas de Educação Especial e enviando estes miúdos para as escolas ditas normais.
Ora vejam esta situação: tenho um aluno que por estar incluído neste grupo de alunos NEE, beneficia de condições especiais que vão desde estar inserido numa turma com menos alunos (20 neste caso) até à possibilidade de ter um currículo adaptado às suas capacidades com critérios de avaliação específicos . O miúdo corresponde com empenho e boa vontade, tem tido resultados que podemos considerar excelentes, e na maioria das disciplinas os professores nem sequer necessitaram fazer qualquer adaptação de programa ou de critério de correcção de testes para que ele atingisse níveis positivos. Até aqui a história configura um final feliz...
Mas o sistema é perverso, e como a ideia é normalizar, no próximo ano o aluno não terá direito a estas condições. Ou seja, porque obteve bons resultados sem necessidade de recorrer a grandes adaptações, para o ano o aluno não vai estar numa turma reduzida que dá ao professor a possibilidade de o acompanhar de forma mais próxima e personalizada, e se as coisas correrem mal não terá direito a condições especiais de avaliação, tendo que ser novamente indiciado para este tipo de condições. Tudo porque este ano teve resultados iguais aos dos outros alunos.
Devo estar a repetir-me, mas vamos lá ver se entendi a questão: estamos ou não perante um aluno com necessidades diferentes dos outros? O aluno foi avaliado por psicólogos e é reconhecida a sua situação ao nível destas necessidades. Teve bons resultados porque está numa Turma que é, em termos de comportamento, das melhores da escola, e que, tendo menos alunos, permite dar-lhe atenção especial. O aluno não sofre de uma doença que se curou este ano, é apenas um aluno diferente dos outros. E vai continuar a ser. Se lhe tiramos o apoio que tem no ano que vem provavelmente reprovará.
Então qual é o sentido disto tudo? Admitimos ou não a diferença, respeitamos e integramos ou pretendemos apenas "tornar normal"?
Estas hipocrisias do "politicamente correcto", desculpem-me, mas não as consigo entender e muito menos aceitar...