Beldroegas
Lembrei-me ontem da casa de meus pais. Do grande quintal onde a Primavera semeava beldroegas espontâneas que cresciam junto das flores e das árvores de fruto regadas pelas mãos amorosas da minha mãe. Todos os anos comíamos pelo menos uma grande sopa feita com as beldroegas do quintal, batatas, ovo escalfado e queijo branco de cabra. Todos os anos o meu pai dizia "estas sim são saborosas, sem adubos".
Lembrei-me ontem da grande arca congeladora cheia de coelhos, lebres, perdizes e um ou outro faisão que o meu pai caçava nos campos alentejanos. Nada de caça grossa, creio bem que ele temia represálias bem mais graves se aparecesse em casa com um javali ou um veado. Lembrei-me do coelho frito acompanhado de migas de batata. Lembrei-me ontem de todos os cozinhados da mãe e da avó Palmira, do aroma de coentros que inundava a cozinha em dia de açorda. E quase pude saborear o osso buco ou a paella, mas não há memória de filet mignon... razões da mediterraniedade certamente!
Percebi ontem que afinal sou mais tímida do que gostaria, mais insegura do que pareço e naturalmente mais desastrada que a maioria das pessoas. Percebi ontem que, apesar da idade e das experiências de vida, ainda sou uma menina que se deixa intimidar pelo desconhecido.
Shit happens! And life goes on ;)...